A Rua Chile, no Centro Histórico de Salvador, carrega, literalmente, uma grande força histórica. Com uma extensão de 400 metros, a rua chegou a abrigar lojas e estabelecimentos comerciais da elite, até por volta do meio da década de 70. No entanto, com a urbanização, o comércio elitista começou a migrar para outros bairros, e a rua perdeu esse título. Mas apesar disso, manteve o charme e o lugar de destaque em Salvador.
Para começar, ela é considerada a primeira rua oficial do Brasil, fundada em 1549, mas que levou outros nomes até ficar assim conhecida e imortalizada. Importante lembrar que a capital baiana foi também a primeira capital do Brasil e assim permaneceu entre 1549 (ano de fundação de Salvador) e 1763, estabelecida pelo primeiro governador-geral, Tomé de Souza.
Inclusive, na planta original da fundação de Salvador já constava, segundo os historiadores, o traçado do que seria a Rua Chile, mas na época com outra nomenclatura. Uma curiosidade é que os portugueses possuíam plantas prontas de cidades. Assim, a planta de Salvador já estava desenhada, quando os portugueses desembarcaram em terras brasileiras. Quando eles chegavam a cidades novas, utilizavam esses modelos preestabelecidos.
A Rua Chile é marcada pela presença de prédios coloniais, de grande valor arquitetônico e histórico. É hoje uma das portas para o Centro Histórico de Salvador e é via de acesso a pontos turísticos importantes, como, por exemplo, o Elevador Lacerda, o Palácio Rio Branco, a Câmara Municipal, a Praça Castro Alves, dentre outros.
Instalação da primeira capital do Brasil
Mas vocês devem estar se perguntando agora: se os navios portugueses chegaram pelo mar, pela região do Porto da Barra, por que então a primeira rua de Salvador surgiu no Centro Histórico?
A resposta tem a ver com as estratégias de segurança dos portugueses quando chegaram à capital baiana. A questão é que a região do Porto Barra apresentava mais riscos de ataques de inimigos, justamente em razão de sua localização geográfica.
Assim, os portugueses decidiram instalar a cidade na região mais alta, com uma visão mais privilegiada do entorno, e a Rua Chile tinha localização estratégica nesse sentido.
Os nomes da Rua Chile
Ao longo do tempo, a Rua Chile teve outros nomes. Na sua criação, por exemplo, a principal rua do Centro Histórico de Salvador era Rua Direita de Santa Luzia. Esse nome fazia referência à porta de Santa Luzia, uma das duas portas de acesso à então chamada Cidade do Salvador, que era murada.
Com o desenvolvimento econômico da região, que atraiu o comércio elitista para a área, a rua foi rebatizada para Rua Direita dos Mercadores. Nessa época, o local já abrigava lojas, farmácia e outros estabelecimentos comerciais diversos. Foi a tendência comercial, inclusive, que inspirou o novo nome.
A rua também foi conhecida, por algum tempo, como Rua Direita do Palácio, em razão da instalação da sede do governo, no período imperial. Todos os nomes, como pode ser visto, estavam ligados a questões políticas, sociais e econômicas.
O nome Rua Chile surgiu em 1902, para homenagear os integrantes da frota chilena que chegaram ao Brasil para buscar os corpos dos embaixadores do país mortos em decorrência da peste bubônica.
Mas, na verdade, a decisão do governo local de prestar essa homenagem foi uma forma de se retratar da situação e evitar represálias do Governo Chileno, que havia cogitado cortar relações. Importante recordar que o Chile era o país que possuía a melhor estrutura civil, política e econômica da América Latina.
Processo de reestruturação da Rua Chile
A primeira grande reforma da Rua Chile aconteceu no ano de 1912, com a demolição de alguns imóveis na área para ampliar a via. A rua cresceu em largura e em extensão, alcançando a Praça Castro Alves.
A Rua Chile participou de diversos momentos históricos de Salvador, pois era palco do comércio de elite. Então, lá nasceu a primeira linha do bonde, além da primeira escada rolante e postes de gás e iluminação. Foi lá também que foi inaugurado o primeiro hotel, o Hotel Chile. Na Rua Chile também estavam as principais lojas de produtos chiques, requintados e até de importados.
A mudança da sede do Governo para o Centro Administrativo da Bahia (CAB), associado à migração do comércio para a região do Iguatemi e Avenida Tancredo Neves, lá por meados da década de 70, a Rua Chile foi perdendo a força comercial.
Em 2018, a Rua Chile passou por um processo de revitalização, como parte do projeto Pelas Ruas do Centro Antigo de Salvador. As obras chegaram ao fim em 2020. O asfalto deu lugar ao paralelepípedo, houve melhorias na acessibilidade e a implantação subterrânea de fiações elétrica e de telecomunicações.
Fragmentos arqueológicos encontrados no subsolo
No processo de revitalização da Rua Chile, diversos fragmentos arqueológicos surgiram durante as escavações para a implementação subterrânea das fiações. Todos os itens dos séculos 17, 18 e 19, como, por exemplo, peças de metal e de cobre, além de restos de telhas, tijolos e louças.
O hotel mais charmoso e luxuoso da Rua Chile, o Palace
Até a década de 70, o então luxuoso Hotel Palace recebia os mais renomados artistas e personalidades internacionais. Fundado na Rua Chile em 1934, o empreendimento foi cenário, inclusive, para o filme Dona Flor e Seus Dois Maridos.
Passaram pelo hotel nomes como Pablo Neruda, Carmem Miranda e Orson Welles, além de autoridades políticas, atletas e soldados de vários países. No entanto, com a mudança do contexto econômico da região, o hotel encerrou as atividades e ficou abandonado por muitos anos.
Um grupo de investidores comprou o imóvel, que passou por uma grande reforma e, em 2017, ressurgiu sob o nome de Fera Palace Hotel. São cerca de 6 mil metros quadrados e 81 apartamentos e suítes.
Da Rua Chile ao Casarão 17
Sete minutos de caminhada, ou 550m, separam a Rua Chile o Casarão 17. Por isso, o Casarão 17 se tornou um point para aqueles que fazem o passeio pelo Centro Histórico e querem aproveitar um momento de curtição, descanso e descontração.
O Casarão 17 está também instalado em um imóvel de importância histórica, construído no ano de 1720 e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
No Casarão 17, o visitante encontra um espaço de lazer e cultura. O local é sede de um dos restaurantes mais visitados da região, o Mariposa Restô, e da única loja da brasileiríssima marca Havaianas na região.
Além disso, o local possui uma vista panorâmica do Terreiro de Jesus da sua varanda localizada no primeiro andar. A vista tem sido cenários de selfies dos visitantes de todos os lugares do mundo, pelo belíssimo cenário.
E se você está no Casarão 17 e quer dar um passeio pela região, ainda tem a opção de contratar o serviço do carrinho elétrico, que passa por 16 pontos turísticos do Centro Histórico de Salvador. Inclusive, a histórica Rua Chile. No site do casarão, é possível fazer o agendamento online antecipado do passeio, por esse link.